Por que tirar os chinelos para meu filho, naquele momento, foi minha melhor decisão

COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA

3/26/20243 min read

No caminho que trilhamos como pais, nos deparamos com inúmeros desafios que testam nossa paciência, nossa sabedoria e, mais profundamente, nosso amor. Em um desses momentos, vivenciei algo que transformou profundamente minha percepção sobre educação e a relação entre liberdade e cuidado. Tirar os chinelos para meu filho não estava nos meus planos, mas seria uma alternativa viável e a melhor decisão que tomei.

Era uma tarde ensolarada de Carnaval, e eu estava com minha família numa casa de praia de parentes nossos. No passeio com os parentes, saindo de casa para ver o pôr do sol na praia, Gabriel, meu filho que estava com seus 3 anos e pouco, com a curiosidade e a determinação que só as crianças possuem, decidiu que queria andar descalço da casa até a praia. A primeira reação que tive foi de rejeição à ideia somada à preocupação: "Coloque os chinelos, Gabriel, é melhor para você e nós não podemos sair sem eles na rua". Mas ele, com a determinação de seus 3 anos, recusou-se de maneira radical.

Naquele instante, confrontei-me com um dilema interno: insistir na minha vontade, impondo o uso dos chinelos, ou permitir que ele explorasse o mundo à sua maneira, correndo o risco de se machucar?

Foi então que uma ideia me ocorreu – e se eu também tirasse os meus chinelos? Se eu pudesse sentir, literalmente, o mesmo chão que ele sentiria, talvez pudesse compreender melhor sua decisão e estar mais atento aos possíveis riscos no caminho.

Aprendizados Parentais

Ao caminhar descalço, senti a conexão com meu filho de uma forma muito mais intensa. O chão já não estava tão quente, das ruas e da calçada, e os eventuais perigos dessa caminhada não permaneceram ocultos, uma vez que, mesmo conversando com outro adulto, o fato de eu estar nas mesmas condições que o Gabriel, com os pés descalços, amplificou bastante minha atenção e percepção do caminho que estávamos trilhando.

Gabriel teve sua construção de autonomia trabalhada, eu consegui pensar rapidamente sobre a real gravidade daquela ação e ainda tive a oportunidade de ter uma experiência muito além do que o esperado. Aquele momento me falou muito sobre empatia e compaixão. Empatia de me colocar no lugar do Gabriel e compaixão de agir em função de melhorar a vida dele.

Aquele Carnaval na praia me ensinou que, mais do que qualquer coisa, educar é um ato de amor. Um amor que escuta, que se põe no lugar do outro, e que está disposto a aprender tanto quanto ensina. Aprendi que, ao dar espaço para que nossos filhos se expressem e explorem o mundo ao seu redor, estamos não só respeitando sua individualidade mas também guiando-os com nosso exemplo e nossa presença atenta.

Lembre de não esquecer:

• A autonomia dos filhos deve ser balanceada com segurança, permitindo sua exploração do mundo de maneira segura;

• Compartilhar experiências, em vez de impor regras, fortalece a conexão e o entendimento mútuo entre pais e filhos;

• Educar é, acima de tudo, um ato de amor que envolve escuta, empatia e a disposição de aprender tanto quanto se ensina. É sobre estar lado a lado, guiando com exemplo e atenção, não apenas com palavras;

• A importância de estar presente e participativo nos momentos de descoberta dos filhos, proporcionando um ambiente seguro para que explorem suas curiosidades e aprendam com suas experiências;

• A eficácia de se colocar no lugar do outro, literalmente sentir o que eles sentem, para entender melhor suas necessidades, desejos e maneiras de ver o mundo. Isso fortalece os laços emocionais e promove uma educação baseada no respeito mútuo.

Essas lições, extraídas de um momento simples mas profundamente revelador, reforçam a ideia de que a educação dos nossos filhos é uma jornada compartilhada, rica em aprendizados para ambos os lados. Ao nos abrirmos para essa troca, não só ensinamos mas também crescemos, moldados pelas pequenas grandes descobertas que fazemos juntos. E assim, passo a passo, construímos uma relação baseada no amor, na compreensão e na cumplicidade, que é, sem dúvida, o alicerce mais sólido para qualquer aprendizado.